quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Vaidades


São duas horas da tarde, e o calor toma conta de tudo... A pele minando óleo, e a camisa meio amassada, impregnada de suor. Tento passar um gloss, e umas gotas de perfume para prosseguir as aulas. Horário corrido, é muito complicado, o fato é que não houve tempo para um banho e uma troca de roupas. Pego alguns livros no armário, e uma canetinhas coloridas, me atrevo a pensar naquela aula diferente, que tanto havia prometido aos meus alunos. Na porta lá estão eles, alguns se aproximam para ajudar a carregar o material, outros me olham com aquela pergunta estampada no rosto:Ah! Prof, você veio?Uma aula empolgante, é o que desejo para o dia . Talvez para disfarçar um pouco do cansaço que toma conta do corpo e da mente. Ô prof, cê tá linda hoje!Eu não sei direito, mas tem dia que a gente está com aquela sensação de que vai explodir a qualquer momento, e qualquer gesto ou atitude acometida e externa, nos causam irritação. Tento fazer uma prece para que o momento de ira, passe. Afinal é apenas um elogio, daquele aluno que não para quieto e calado um só instante e que insiste em esconder a minha bolsa em vários lugares diferentes. Poderia pensar que se tratava de um escárnio, ou zombaria, mas prefiro imaginar que era apenas um elogio sincero. Tudo bem que eu não estava nos meus melhores dias, e que talvez ninguém se lembrasse de mim para um comercial de Shampoo, ou hidratante facial, mas se meu aluno insistia em dizer que eu estava linda, talvez estivesse mesmo. A aula segue, travamos um delicioso debate acerca do uso da energia nuclear, articulado a uma dinâmica utilizando as canetas coloridas. Os alunos participam, querem opinar sobre o contexto político e social, e o posicionamento dos países mais desenvolvidos. Que aula maravilhosa! Aprendo e ensino, bem como nos ilustram as teorias pedagógicas, que afirmam que o objeto do conhecimento se modifica após ser explorado. Analisando as falas e as manifestações dos educandos, estou tendo um “insigh”, vontade mesmo é de escrever aquele artigo educacional que há tanto tempo planejo escrever. Estou a refletir na ação e quem sabe se Donald Shon, pudesse de alguma forma conhecer meus pensamentos sentiria orgulho da educadora reflexiva que eu me tornava a cada dia. Meu aluno deseja tomar a fala e pede licença. Mantenho-me atenciosa a qualquer participação.


Ele me indaga:- Uai, prof, parece que a senhora tá com caspa?- Caspa? Eu? Seria permitido compartilhar com meus alunos um problema dermatológico? Passo a mão sobre os cabelos, e percebo que a camisa escura, está quase toda tomada de caspa?- Não , meu querido, é apenas giz!